sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Hipertensão Arterial em gatos.





Hipertensão Arterial em gatos.



A hipertensão arterial sistêmica (HSA), ou seja, a elevação persistente da pressão sanguínea arterial é reconhecida como uma doença que acomete os cães e gatos, mas contrariamente ao que ocorre na medicina humana a sua aferição não é um procedimento de rotina entre os clínicos veterinários. 

Vários fatores como idade e raça influenciam as pressões arteriais diastólicas e sistólicas e médias dos cães. Estudos mostram que certos animais apresentam a doença clínica evidente causada pela hipertensão, e que alguns animais que mostram "pressão alta" são normais em muitos aspectos ou não apresentam evidências de condições patológicas relacionadas. 

A hipertensão arterial é uma doença emergencial que afeta 1 a 2% dos cães. Em cães adultos normais as pressões arteriais sistólicas, diástólicas e média tendem a aumentar pelo fim da meia-idade, tanto em indivíduos da mesma raça como entre de todas elas. Existem alguns estudos que sugerem que os machos caninos intactos tenham maior risco que os castrados e as fêmeas. Observamos algumas diferenças quanto ao porte das diferentes raças, sendo que os cães de grande porte e gigantes tendem a apresentar pressões mais baixas que os de pequenos porte, mas quando falamos em cães de caça observamos valores de pressão maiores que para os cães grandes. 

Em geral os gatos com doença grave em algum dos órgãos-alvo secundários a hipertensão são idosos, apesar de não existir diferença entre os valores de pressão entre animais jovens e idosos, mas nestes casos saudáveis. 
Quando pensamos em etiologia da hipertensão podemos classificar como: 

A. primária: sem causas aparentes, mas tem predileção por humanos; 
B. secundária (a doenças): no quadro abaixo podemos relacionar algumas doenças associadas à hipertensão em cães e gatos 

Doença renal (tubular, glomerular, vascular) 
Hiperadrenocorticismo 
Hipertireoidismo 
Hipotireoidismo 
Feocromocitoma 
Anemia Crônica (em gatos) 
Dieta com muito sódio 
Diabetes melitus 
Doenças Hepáticas 
Obesidade 

Sabemos que a pressão sanguínea é dependente da resistência vascular periférica e do débito cardíaco, assim pode estar aumentada devido a situações que aumentem o débito cardíaco (freqüência e volume sanguíneo) ou também por situações que aumentem a resistência vascular. 
Numa condição normal a pressão sanguínea é mantida dentro dos limites normais mediante ações do sistema nervoso autônomo, sistemas hormonais (renina-angiotensina, vasopressina) e regulação do volume sanguíneo pelos rins além de outros fatores. 
Condições que possam levar a uma acentuada atividade nervosa simpática ou responsiva como o hipertireoidismo, aumento da produção de catecolaminas, como um feocromocitoma ou a expansão de volume devido a aumento da retenção de sódio, como ocorre na insuficiência renal,hiperaldosteronismo e hiperadrenocorticismo, podem levar a um aumento crônico da pressão 
sanguínea. 
Quando falamos da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona com retenção de água e sódio e vasoconstrição lembramos das doenças intra-renais, como as glomérulo-nefrites e nefrites crônicas. Se pensarmos em aumento da produção de angiotensinogênio como no hiperadrenocorticismo, e nas doenças extra- renais que leve a um aumento de na atividade nervosa 
simpática ou interfiram na perfusão renal, como o hipertireoidismo e obstruções arteriais, devemos lembrar que todas estas condições estão associadas à hipertensão. 
Quanto aos efeitos patológicos da hipertensão devemos considerar que o aumento da pressão de perfusão pode lesar os leitos capilares. Como sabemos que na maioria dos tecidos a pressão capilar é regulada pela vasoconstrição que alimenta os capilares, e se pensamos em constrição arteriolar contínua secundária a hipertensão crônica podemos relacionar a arteriosclerose, 
que acaba ajudando a aumentar a resistência vascular. Estas lesões podem causar hipóxia capilar, lesão tecidual, hemorragias e até infartos, resultando assim em disfunções orgânicas, como descrevemos abaixo. 

Complicações Oculares 
Cegueira 
Hemorragia (retiniana, vítrea e hifema) 
Descolamento de retina 
Glaucoma 
Úlceras de córnea secundárias 
Tortuosidade dos vasos retinianos 

Complicações Neurológicas 
Acidente Vascular Cerebral 
Convulções 
Síncopes 
Trombose 
Edema cerebral e Necrose 

Complicações Renais 
Poliúria/polidipsia 
Deterioração adicional na função renal 
Danos glomerulares 
Perda de néfrons 
Proteinúria 
Complicações Cardíacas 
Hipertrofia Ventricular esquerda (com ou sem insuficiência) 
Sopros 
Ritmo de galope 

Outras complicações 
Epistaxe 
Os sinais clínicos da hipertensão estão relacionados com qualquer processo de doença associada ou com lesões dos órgãos-alvo. Na rotina observamos que a queixa mais comum é a cegueira que normalmente está relacionada com hemorragia ou descolamento agudo da retina. 
Apesar da retina ser colocada novamente no lugar muitos animais não apresentam retorno da visão. 
Outra queixa também rotineira é a poliúria/polidipsia, normalmente relacionadas à doença renal ou hipertireoidismo em gatos. Podemos ainda elencar os problemas cardíacos (sopros), epistaxe, convulsões, paresia, síncope e colapsos como alguns sinais indicativos.
Quando pensamos em diagnóstico devemos considerar que a mensuração da pressão sanguínea deve ser obtida não somente quando detectamos os sinais compatíveis, mas quando diagnosticamos alguma doença associada à hipertensão. É muito importante confirmarmos um diagnóstico de hipertensão arterial mediante a realização de mensurações múltiplas. Outros exames necessários devem estar incluídos em nossa rotina como, exames hemograma, bioquímicos, testes hormonais, radiografias torácicas e abdominais, ultra-sonografia, eletrocardiografias, exame oftálmico além de testes sorológicos. 
Todos os animais com hipertensão e aqueles com sinais clínicos supostamente causados pela hipertensão devem ser tratados. Algumas estratégias podem ser adotadas e são benéficas como, redução na ingestão de sódio, redução do peso, evitar o uso de glicocorticóides e derivados da progesterona, e o uso de diuréticos. A capacidade de monitorar a pressão sanguínea é importante quando se utiliza de fármacos anti-hipertensivos, sendo que são necessário mensurações seriadas para avaliação da eficiência do tratamento e evitar o quadro de hipotensão. Os fármacos mais utilizados são os bloqueadores ß-adrenérgicos, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA)e os bloqueadores da entrada de cálcio. Normalmente observamos que a terapia com um único fármaco tem sido eficaz, mas alguns casos é necessário uma terapia combinada para o controle efetivo da pressão sanguínea. Nos casos não emergenciais o monitoramento da pressão é feito a cada uma a duas semanas, e quando se conseguir o controle satisfatório pode-se fazer o monitoramento menos freqüente. Algumas vezes os animais podem levar de algumas semanas a meses para obtermos o controle inicial da pressão, e também alguns animais tem uma resposta rápida mas se tornam refratários ao mesmo fármaco com o passar do tempo. 
Nos casos emergenciais ou seja, nas crises hipertensivas (animais com descolamento agudo e hemorragia de retina, encefalopatia, hemorragias intra-cranianas, insuficiência renal e cardíaca aguda) devemos utilizar vasodilatadores diretos como por exemplo a hidralazina ou o nitroprussiato. 
Podemos utilizar também a acepromazina e o propanolol. Quando de crises por excesso de catecolaminas a escolha adequada seria o bloqueador a fentolamina. 
Por causar prejuízo aos órgãos nobres é importante que seja diagnosticada e tratada o mais precocemente possível. Como na maioria dos casos a hipertensão está associada à doença subjacente grave, é claro que devemos tratar a causa base. O prognóstico a longo prazo muitas vezes é reservado, mesmo que a resposta ao tratamento seja eficaz. O processo de doença subjacente ou alguma complicação da crise hipertensiva podem ser a causa do óbito. 

Mensuração da pressão sanguínea 
O ideal é que a pressão arterial sistêmica seja mensurada em períodos diferentes do dia, ou seja, manhã, tarde ou noite, visto que os valores podem variar no decorrer do dia. Não sendo possível, recomenda-se que o animal repouse, por pelo menos 20 minutos, antes das tomadas. São realizadas 
cinco mensurações consecutivas, de onde são obtidos os valores médios de pressão arterial sistólica e diastólica. A interpretação dos valores sempre deve ser feita em conjunto com o exame clínico e acompanhado periodicamente. 
Podemos separar a mensuração em direta e indireta: 

Direta: feita pela inserção de uma agulha ou cateter cheio de líquido conectado a um transdutor de pressão diretamente na artéria. É um método que exige mais habilidade mas a contenção física e o desconforto associado à punção arterial podem levar a um falso aumento na sua medida. 

Indireta: pode ser feito com uso de ultra-som doppler ou pelo método oscilométrico que são os mais utilizados na rotina veterinária. Os métodos de auscultação e palpação arterial podem ser utilizados mas não são normalmente recomendados. 
Entre em contato conosco para maiores esclarecimentos, estamos à disposição para ajudá-los na rotina médica a um melhor diagnóstico de seu paciente.

Fonte: http://www.mistersaudeanimal.com.br



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