por Susane Melo
O botulismo é uma forma de intoxicação alimentar, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostidrium botulinum. É uma doença neuropática, grave e seus tipos C e D são os que mais acometem cães e gatos. Por ser uma doença incomum em animais domésticos, o diagnóstico geralmente é de difícil confirmação e não se sabe ao certo o quanto a doença afeta os cães, pois muitos casos podem não estar sendo relatados e contabilizados.
Como um cão pode contrair o botulismo
Pela ingestão de:
• comida deteriorada/lixo, inclusive o doméstico
• carcaça de animais mortos
• ossos contaminados
• carne crua
• alimentos enlatados
• poças d´água em contato com lixo
• açudes em propriedades rurais
Sintomas do botulismo
A toxina ingerida é absorvida no estômago e intestino e distribuída pela corrente sanguínea. Essa toxina tem ação específica sobre o sistema nervoso periférico e impede a transmissão dos impulsos das terminações nervosas para os músculos.
O cão apresenta paralisia flácida (patas ficam moles). Os membros começam a paralisar das patas traseiras para as patas da frente, podendo afetar, inclusive, o sistema respiratório e cardíaco. Ocorre a perda do tônus muscular e dos reflexos espinhais, mas a cauda mantém a movimentação.
Os sintomas aparecem dentro de 1 a 2 dias da ingestão da toxina e o quadro evolui rapidamente para a posição de decúbito (deitado).
As principais complicações relacionadas ao botulismo são as insuficiências respiratória e cardíaca, que podem levar a morte.
Diagnóstico do Botulismo
Normalmente é baseado nas alterações clínicas e no histórico da ingestão de algum alimento suspeito de contaminação: lixo, ossos encontrados na rua etc.
Na maioria das vezes, a identificação da doença fica prejudicada, pois é necessário, para sua confirmação, que se realize o teste de neutralização em camundongos, o que nem sempre está disponível. A toxina não aparece diretamente em exames de urina, fezes ou sangue.
O botulismo pode ser confundido com:
• RAIVA: mas esta, em geral, está associada a alteração do estado mental do cão. Link para a página sobre Raiva.
• POLIRRADICULONEURITE AGUDA: doença degenerativa nervosa na qual ocorre uma inflamação aguda dos nervos e, normalmente, atinge as 4 patas ao mesmo tempo e o cão apresenta um latido diferente, mais rouco, do que o seu normal.
• DOENÇA DO CARRAPATO: também causada por uma neurotoxina produzida pelos carrapatos Ixodes e Dermacentor. Neste caso, o carrapato normalmente está infestando o cão. Leia aqui tudo sobre as doenças do carrapato: Erliquiose e Babesiose.
• MIASTENIA GRAVE: doença que resulta em fraqueza muscular e fadiga excessiva.
Como tratar o Botulismo
Em animais gravemente afetados pode ser necessária internação com oxigenoterapia e ventilação assistida por alguns dias. Nos demais casos, o tratamento está baseado em medidas de suporte:
• Manter o animal sobre uma superfície limpa e acolchoada;
• Virar o cão para o lado oposto a cada 4h/6h;
• Monitorar febre. Veja como fazer isso aqui (Link para página sobre febre);
• Manter a pele seca e limpa (livre de urina e fezes). Pode ser aplicada pomada repelente de água nas áreas onde o cão se suja mais;
• Alimentar e dar água usando seringas. O uso de ração líquida é indicado. Link para como dar medicação líquida;
• Massagear membros e realizar movimentos com as patas por 15 minutos, 3 a 4x ao dia;
• Auxiliar em tentativas de ficar em pé e sustentar o peso, 3 a 4x ao dia;
• Auxiliar na ida ao banheiro, após dar comida e água, levar o cão ao local de costume e deixá-lo ali por algum tempo para que possa se aliviar.
Existe uma antitoxina específica que pode ser administrada, mas ela só é eficaz se a toxina ainda não penetrou nas terminações nervosas. Isso significa que, se o cão começou a paralisar as patas traseiras e for identificado com botulismo, é possível usar a antitoxina evitando que a doença afete outras regiões, como as patas dianteiras, pescoço, sistemas respiratório e cardíaco.
O uso de antibióticos não surte efeito, pois não são as bactérias que estão causando a doença, mas sim a toxina que é pré-formada.
Recuperação
O prognóstico é favorável, as terminações nervosas precisam se regenerar e isso ocorre lentamente. Muitos cães se recuperam completamente entre 2 a 4 semanas do início dos sintomas.
Como prevenir o Botulismo
Cuidado com passeios em locais onde há lixo, poças de água, em sítios/fazendas e onde exista alimento em decomposição. Ainda não existe vacina para cães contra o botulismo.
Caso real
Shih Tzu de 6 meses, morador de apartamento, com todas as vacinas em dia e desparasitado, começou a apresentar dificuldade para subir escadas, subir no sofá, pular, com uma incoordenação das patas traseiras. Foi levado ao veterinário, fez RAIO X que não apresentou alterações e o mesmo receitou antiinflamatório e protetor de articulações.
Após 24h da ida ao veterinário, o cão não apresentou melhoras. Em novo contato com o médico, o mesmo manteve o tratamento. O cão teve diarréia e as fezes foram examinadas, as quais não apresentaram nenhuma alteração. Em 2 dias, as patas traseiras paralisaram e em 4 dias as patas da frente e a cabeça também ficaram flácidas.
O cão foi internado, foi feito exame de sangue, que estava ok, foi aplicada medicação para testar a reação do cão, em caso de Miastenia, mas o mesmo não reagiu. Por exclusão, foi constatado que o cão estava com botulismo e se iniciaram as medidas de suporte.
Não se sabe onde o cão teve contato com a toxina, suspeita-se dos passeios, pois como o cão reside em uma região central da cidade, com freqüência há lixo espalhado pelas ruas e essa pode ter sido a forma de contaminação. Ou ainda, o mesmo teve acesso a comida enlatada para cães, onde pode ter havido o desenvolvimento da toxina.
Cerca de 3 dias após o diagnóstico de botulismo e sem necessitar de internação, o cão começou a sustentar a cabecinha novamente. Ficava o tempo todo acompanhado de alguém, deitado em local aconchegante, recebendo comida líquida e água, sendo levado ao banheiro e como é um shih tzu foi tosado para facilitar a limpeza.
Em 2 semanas o cão já havia recuperado um pouco do tônus das patas dianteiras e com ajuda já parava sentadinho, já conseguia comer alguma coisa mais sólida, mas não tinha muita vontade, por isso continuava comendo ração líquida juntamente com outros alimentos: frutas (que ele ama).
Em 3 semanas, o cãozinho já parava em pé mas não tinha firmeza, precisava ajuda e já conseguia se alimentar e tomar água sem necessitar de auxílio.
Em 4 semanas, já conseguia se movimentar, mas para andar movimentava as patas traseiras ao mesmo tempo (tipo pulo de coelho).
Em 5 semanas, o cão estava plenamente recuperado e sem seqüelas. Hoje ele está com 1 ano, é muito saudável e brincalhão.
Bibliografia
Alves, Kahena. O botulismo em cães: uma doença da junção neuromuscular. UFRGS, 2013.
Chrisman et al.. Neurologia dos pequenos animais. Roca, 2005.
Tortora et al.. Microbiologia. Artmed, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O 4Patas agradece a sua presença e seu comentário.
Volte sempre, seja nosso Seguidor