domingo, 11 de março de 2018

O que acontece quando um cão fica sozinho em casa





por Matheus Gonçalves(*).




Poucos donos de cães gostam da ideia de deixarem seus animais de estimação sozinhos quando vão trabalhar. Mas a maioria de amantes de cães não fazem ideia de como seus animais lidam com o fato de serem deixados sozinho. Agora os cientistas revelaram que os cães passam até meia hora uivando, latindo e lamentando depois que seus donos os deixam sozinhos. E para alguns animais de estimação, o tormento dura horas.

Dois dos principais especialistas em comportamento canino revelaram à MailOnline como os cães reagem ao ficarem sozinhos. Os primeiros minutos de isolamento são os mais estressantes para um cão, de acordo com os pesquisadores.

Alice Potter, uma cientista que estuda animais de estimação no RSPCA, disse à MailOnline: “A reação de separação é iniciada logo após a partida do dono, normalmente começando dentro de 30 minutos, e muitas vezes dentro dos primeiros minutos.”

Os sinais comportamentais mais comuns relacionados à separação são comportamentos destrutivos, muitas vezes direcionados para a porta por onde o dono sai, vários tipos de vocalizações (uivos, latidos e choramingos), fezes e urina. Outros sinais menos frequentes incluem salivação excessiva, auto-mutilação, comportamento repetitivo e vômitos.

Os cães ficam mais estressados logo após você sair porque eles aprenderam a responder aos sinais de que você está indo, de acordo com a Dra. Emily Blackwell, uma especialista em relações homem-animal da Universidade de Bristol.

Ela disse ao MailOnline: 

“Os cães sabem quando seu dono está prestes a sair de casa – eles aprendem sobre as coisas que acontecem rotineiramente antes de sair, por exemplo, colocar as coisas em um saco, pegar chaves e colocar seus sapatos e casaco. Para alguns cães, essas ‘dicas’ serão um preditor de que algo ruim está prestes a acontecer e farão com que fiquem ansiosos. Para estes cães, dentro de 10 minutos após a saída do proprietário, a tendência é que mostrem sinais de ansiedade que podem incluir correr, choramingar, uivar, ou arranhar a porta".

As horas seguintes após ser deixado sozinho dependem da personalidade do seu cão. Cães que são predispostos a ficarem ansiosos podem passar horas correndo para cima e para baixo à espera de seus donos.

Segundo a Dra. Blackwell, 

“cães com problemas de separação tendem a não se acalmar por longos períodos de tempo, mesmo quando o proprietário está fora por várias horas. Normalmente, eles gastam menos de um minuto descansando antes de se levantarem e se movimentarem novamente, então seu descanso é muito perturbado e os cães muitas vezes podem estar cansados quando o proprietário volta para casa e só se acalmarem para dormir naquele momento.”

Ela acrescentou que os cães ansiosos uivam constantemente, apenas tomando pausas curtas para ouvirem se seu dono está voltando. A Dra. Potter disse que é quase impossível dizer se o seu cão é suscetível de ficar ansioso quando você sai de casa.

“Este é um problema escondido por sua natureza só acontece quando o dono está ausente”, disse ela.

A pesquisa anterior da universidade de Bristol mostrou que os cães de raça sofrem mais com a ansiedade da separação, e labradores e retrievers são particularmente suscetíveis. A Dra. Blackwell acrescentou que os cães jovens são mais propensos a ansiedade sem os seus donos.

“Quanto aos cães com problemas de separação, parece que o pico desta doença está em torno de dois anos de idade, mas os cães de qualquer idade podem sofrer”, disse ela. “Recomenda-se que todos os donos tentem filmar seus cães quando eles são deixados sozinhos de vez em quando, apenas para se certificar de que eles não estão mostrando um sinal ‘escondido’ de angústia, como tremer, correr ou choramingar.”

Potter disse que existem quatro passos simples que você pode seguir para ajudar seu cão lidar com sua ausência. “É importante não punir o seu cão se ele urinar ou ser destrutivo enquanto você está fora, isso pode deixá-lo mais ansioso por ser deixado sozinho e pode estragar o seu relacionamento”, acrescentou. “Seu cão será mais propenso a relaxar quando deixado sozinho, se ele fora alimentado e exercitado de antemão.”




(*)Matheus Gonçalves - Porto-alegrense de 21 anos e estudante de Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também cursou alguns semestres de Engenharia de Energia. Profundamente interessado por ciência, filosofia e literatura, produz conteúdo para Climatologia Geográfica desde abril de 2013.

Fonte - climatologiageografica.com

sexta-feira, 2 de março de 2018

Humanos da Idade da Pedra já tratavam seus cachorros feito gente





por Ana Carolina Leonardi(*).

Pintura Rupestre


A trajetória evolutiva dos cachorros é mais ou menos bem resolvida: os antepassados dos lobos começaram a andar por perto de onde viviam os homens nômades, para se alimentar com facilidade dos restos que deixávamos para trás. Os que eram menos medrosos se aproximavam mais, comiam melhor, vivIam melhor e deixavam mais descendentes. Ao longo de 13 mil anos, nós domesticamos os bichos, trocando segurança e comida por…

Pelo quê mesmo?
Já éramos pais de pets há 14 mil anos: descobertas recentes mostram que o envolvimento emocional com os bichos já era altíssimo no Paleolítico.

A versão oficial dessa história afirma que, para os seres humanos de 14 mil anos atrás, os cães eram uma ferramenta importantíssima: percebem sinais que passam batido pelos nossos sentidos, protegendo os bandos humanos e auxiliando a caça.

Ainda segundo essa narrativa, a “função” do cachorro teria sido deformada pela modernidade aos poucos. Com a nossa mania atual de humanizar tudo, o bichos teriam ganhado roupa, creche, participação nas fotos de família – em resumo, um investimento emocional (e muitas vezes financeiro) altíssimo.

Uma nova descoberta vem mudar essa história – e argumentar que, em vez de uma ferramenta, os bichos já eram tratados como filhos e cuidados carinhosa e intensamente pelos humanos desde o início da domesticação, há 14 mil anos.

Uma tumba do Paleolítico descoberta há mais de um século em Bonn, na Alemanha, continha um par de humanos e um par de cães enterrados juntos. Isso a gente já sabia – e era bonitinho e quem sabe simbólico que eles tenham dividido a “morada final” com os pets. Mas só isso não explica muita coisa.

A novidade é que foi possível extrair e analisar um dente do cadáver do cachorro mais novinho, com a idade estimada em 7 meses. E a forma como ele morreu diz muito sobre a relação humano-cão da Idade da Pedra.

Isso porque, segundo as evidências biológicas encontradas no dente, aquele cão tinha um caso gravíssimo de cinomose. A exposição ao vírus é extremamente comum entre cachorros até hoje – mas as versões agressivas da doença atacam o organismo muito rapidamente e têm poucas chances de cura.

O filhote da Idade da Pedra teria contraído a doença com 3 ou 4 meses de idade – e em casos graves assim, a doença pode matar menos de 3 semanas.

A cinomose costuma progredir em três fases: na primeira semana, o cachorro tem febre alta, vômito e diarreia, não come, fica letárgico. Na segunda fase, chega a congestão nasal e, com o sistema imunológico debilitado, muitos cachorros desenvolvem pneumonia. É nessa fase que 90% dos animais morre. Na terceira e última etapa, a doença começa a causar convulsões.

Como sabemos pelas provas arqueológicas, o cão só morreu 4 meses depois de pegar cinomose. Ou seja: viveu cinco vezes mais do que seria esperado para o quadro.

Segundo os pesquisadores que fizeram a análise do dente, a única explicação possível para uma sobrevida desse tamanho seriam cuidados intensivos dos donos – que envolveriam não só limpar diarreia e vômito, mas dar comida e água na boca (para um cão com diarreia) e manter o animal suficientemente aquecido (ainda que ele pudesse vomitar a qualquer momento).

São os mesmos cuidados que exige um bebê doente – e não são tão estranhos para a nossa relação moderna com os peludos. Mas, se a relação entre humanos e cães tivesse começado tão pragmática quanto dizem, e o valor dos bichos estivesse associado exclusivamente à sua capacidade de guardar e caçar, simplesmente não faria sentido desperdiçar os escassos recursos da Idade da Pedra em um bicho doente.

“Enquanto estava doente, o cachorro não teria nenhum uso prático como animal de trabalho. Isso, somado ao fato de que ele foi enterrado com seus supostos donos, sugere que existia uma relação de cuidado especial entre humanos e cães há, pelos menos 14 mil anos”, resumem os autores da pesquisa.

Não temos como saber se essa era a regra, ou se esses donos eram especialmente apegados ao seu cachorro – e o resto dos humanos, não. Se esse for o caso, será que a discussão “Pais de pet são pais?” começou há 140 séculos?


Fonte - c/comportamento
(*) Ana Carolina Leonardi é colunista de superabril