segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eutanásia um dilema; fazer ou não.















Despedir-se do animal de estimação não é nada fácil. E mesmo diante do diagnóstico de uma doença incurável e que pode impor uma má qualidade de vida, o apego e sobretudo o amor pode levar o proprietário a lutar até os últimos momentos para tratá-lo. No entanto, em alguns casos a orientação dos médicos veterinários é quase sempre a mesma: a eutanásia. Um método que, mesmo prometendo uma morte sem dor, ainda é bastante rejeitado pelos tutores, seja pela dúvida ou falta de informação.
A veterinária Débora Monteiro teve que autorizar a eutanásia do seu próprio cãozinho, um labrador que sofria de câncer. Foto: Bernardo Dantas/DP/D.A Press

A veterinária Débora Monteiro teve que autorizar a eutanásia do seu próprio cãozinho, um labrador que sofria de câncer.Foto: Bernardo Dantas/DP/D.A Press 

De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) a eutanásia é considerada como “Cessação da vida animal, por meio de método tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado, observando sempre os princípios éticos”. Para garantir o bem-estar, o procedimento deve atender a alguns princípios básicos definidos no Guia Brasileiro de Boas Práticas para a Eutanásia. E entre eles está a garantia da ausência de dor ou desconforto ao animal.

Segundo a médica veterinária do Hospital Veterinário Harmonia, Pâmela Vieira, a eutanásia é um sacrifício humanitário, já que todo procedimento ocorre quando o animal está anestesiado. “Primeiro são aplicadas drogas anestésicas no animal e, quando ele estiver completamente adormecido, é aplicada uma medicação que provoca parada definitiva no coração. O animal morre de parada cardio-respiratória”, explica. O procedimento dura em torno de 30 minutos e pode custar de R$100,00 a 300,00 dependendo do porte do animal.

Recentemente, o caso do cachorro Dentinho, encontrado na rua sem pelos e com problemas nos olhos e nos dentes, levantou a discussão sobre se o melhor seria sacrificá-lo. No entanto, de acordo com Gustavo Campos, médico da Clínica Veterinária responsável pelo caso, não foi necessário. “Ele não tem doença sem tratamento ou degenerativa, apenas não é um cachorro perfeito. O caso dele tem tratamento. A eutanásia deve ser somente em casos graves”.

Segundo a Resolução N° 1000, de 11 de maio de 2012, a realização da eutanásia em animais está restrita a situações em que não há possibilidade de outras medidas alternativas, devendo apenas ser indicada pelo médico veterinário, quando:

I - o bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento dos animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos;

II - o animal constituir ameaça à saúde pública;

III - o animal constituir risco à fauna nativa ou ao meio ambiente;

IV - o animal for objeto de atividades científicas, devidamente aprovadas por uma Comissão de Ética para o Uso de Animais - CEUA;

V - o tratamento representar custos incompatíveis com a atividade produtiva a que o animal se destina ou com os recursos financeiros do proprietário.

Mesmo sendo um dos motivos para realizar a eutanásia, a falta de recursos para tratar o animal ainda divide a opinião entre os veterinários. Para muitos não é motivo suficiente. “Aqui no Hospital Harmonia nós não fazemos mediante essa justificativa. Sendo por dificuldade financeira, os donos podem recorrer aos hospitais universitários, ou a organizações. Só fazemos quando não há possibilidade de tratamento por conta de alguma doença irreversível”, afirma Pâmela.

Segundo ela, as doenças mais comuns que podem ser irreversíveis são falência ou insuficiência nos órgãos, ausência das funções ativas normais, raiva e cinomose. No entanto, mesmo diante de casos em que a eutanásia é indicada, a decisão deve ser do responsável pelo animal. “O veterinário indica, apenas orienta, mas a decisão é do dono. Nosso papel é esclarecer sobre o caso, as chances e a qualidade de vida”, afirma.

Foi o que aconteceu com o militar Nahum dos Santos, 42 anos. Ele foi alertado por vários veterinários sobre o caso da rottweiler Dark, que aos seis anos apresentou diversas complicações derivadas de erliquiose, doença transmitida por carrapato, além de anemia e problema renal. Nos primeiros meses o militar não poupou esforços para tratar a cadela. “Foi um tratamento caro, ela tomava remédios diariamente, além da equipe de veterinários que acompanhava o caso”, conta.

Em determinado momento do tratamento, os três veterinários indicaram a eutanásia. Segundo eles, seria o melhor a ser feito. “Eu relutei, não aceitei no início, fazia tudo para ter alguma reação de Dark, mas eles diziam que não tinha mais o que fazer. Foi quando aceitei porque não aguentava mais a angústia de vê-la sofrer e por causa da minha impotência diante de tudo”, conta.

Ao chegar no consultório, Nahum voltou atrás. O motivo foi a esperança. “Diante de tudo que a gente já viu na vida, tantas histórias de superação, achei que deveria acreditar. Mas um dia depois ela teve uma morte natural. Acho que fiz certo em esperar, se não eu sempre ficaria na dúvida”, afirma. Mesmo desistindo, o militar afirma que tinha bastante segurança nos veterinários e diz ter certeza que o procedimento seria seguro.

Para tomar a difícil decisão, a confiança nos profissionais envolvidos é indispensável. De acordo com a veterinária Débora Monteiro, a melhor pessoa para informar sobre o caso do animal é um bom profissional. “O veterinário é quem pode esclarecer sobre a qualidade de vida que o animal terá e se há risco de morte, então o melhor é ouvi-lo”, afirma Débora, que também passou pela experiência com um labrador preto de 7 anos, que batizou de Negão.


O cachorro foi deixado na clínica em que ela trabalhava, sem pelos, com emagrecimento fora do normal, pesando 18 kg, quando deveria estar com 30 kg. “Ele foi doado por alguém que não queria cuidar dele, então resolvi adotar. Ele recebeu todo tratamento necessário e me surpreendi, porque quando ele ficou saudável descobri que era um labrador preto”.


Depois de três meses o cachorro estava totalmente recuperado, mas depois de alguns anos voltou a emagrecer e foi diagnosticado com câncer. Mesmo conseguindo vencer a doença, ele tinha parte do fígado comprometida e já estava com metástase no pulmão. “Eu não tinha mais o que fazer para dar qualidade de vida a ele. Negão era um cão ativo, mas depois da doença não comia nem brincava mais, então o veterinário que o acompanhava indicou a eutanásia e eu, como veterinária também, sabia que era a melhor coisa a ser feita”, afirma Débora.

Débora conta que também foi motivada a decidir pela eutanásia ao ver o sofrimento do cachorro. “Devemos nos perguntar: até onde vai nosso egoísmo? Claro que me ajudou saber que realmente não havia nada a ser feito e que a culpa não seria do profissional, mas o que mais me motivou foi vê-lo sofrendo. Ele tinha vivido bem e morreu com 13 anos. Hoje guardo o melhor dele, as lembranças boas”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O 4Patas agradece a sua presença e seu comentário.
Volte sempre, seja nosso Seguidor