quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Pet Terapia


por Daniela de Paula (*)


Doutores de quatro patas mudam a rotina de crianças em hospital do Rio

Projeto Pêlo Próximo leva cães para ajudar na recuperação dos pequenos internados








RIO - Dor, choro, agulhas, soro, cateter. Esse é o cenário que vêm à cabeça quando se pensa na rotina de um hospital. Mas, se depender dos doutores de quatro patas, a situação é bem diferente: a tristeza dá lugar à diversão. Para amenizar o sofrimento de pacientes, o projeto Pêlo Próximo, que atua voluntariamente com terapia assistida por animais, leva cães a unidades hospitalares do Rio, além de casas de repousos e espaços para doentes terminais.

Uma das unidades a receber os peludos é o Hospital pediátrico Prontobaby, na Tijuca, na Zona Norte. Lá, desde 2015, toda segunda-feira é dia de tratamento especial. Enquanto os pets terapeutas não chegam, as crianças são cuidadosamente preparadas para o atendimento. Elas recebem luvas para proteger os acessos usados na aplicação de medicamentos, por exemplo. O GLOBO acompanhou uma atividade no local, onde dois pets terapeutas dão plantão.



Com os olhinhos azuis brilhando, Rebecca Bayer, de 7 anos, internada após ter uma convulsão, aguardava ansiosa para conhecê-los. Seria seu primeiro dia de pet terapia. A mãe da menina, Adriana Bayer, de 41 anos, também estava em alerta à espera da chegada dos doutores de quatro patas.



— Não conheço o trabalho. Vai ser o primeiro dia em que ela participa. Acho que ela vai gostar porque ela já tem bichinho em casa. Só vai ajudar, pois quem não gosta de um animalzinho, não é mesmo? — indagou Adriana.


Naquele dia, porém, apenas um cãozinho foi ao “trabalho”: Juca, um golden retriever de 3 anos, que está na função há 1 ano e seis meses. O outro, Brady, da mesma raça, estava no veterinário e não conseguiu chegar a tempo.

Juca o Golden Terapeuta de 4 patas



Bastou Juca entrar no espaço onde aconteceria a atividade para os pequeninos ficarem em polvorosos. Espoleto, Miguel de Santana Fogaça, de apenas 3 anos, não parava quieto. Corria para lá e para cá. Nem parecia ter acabado de sair de uma infecção urinária e uma otite. Quando viu o animalzinho ficou encantado. O pai dele, Rodrigo Fogaça, de 33 anos, achou aquilo fantástico.

— É uma ação super válida. Ameniza o ambiente pesado que é o de um hospital — disse ele, que é morador de Recife e virá morar no Rio, transferido do trabalho.

Tânia Lúcia Rodrigues Batista, avó de Julia Santrovitsch, de 4 anos, internada com princípio de pneumonia e bronquite, disse que também era a primeira vez que a neta participava da ação. Otimista, ela achou a atividade importante e disse que ajudaria bastante no tratamento da menina, que não parava de alisar o cão com uma escova de cabelo.

— Isso faz com que as crianças interajam com os animais e umas com as outras. Elas saem do quarto, se distraem e passam o tempo. Ficam muito melhor psicologicamente e se recuperam mais rápido — afirmou.

Segundo um estudo publicado em 2001 no Journal of the American Association of Human-Animal Bond Veterinarians, após 15 minutos de interação com um animal já são liberados no organismo neurotransmissores importantes, ligados às sensações de prazer e bem-estar.

A mãe de Rebecca acertou quando disse que a filha ia gostar da experiência com o pet terapeuta. No fim da atividade, que durou cerca de uma hora e meia, a menina disse que adorou.

— Foi muito legal. Achei muito divertido. Eu amo os animais. Tenho um cachorro e dois gatos — contou sorridente Rebecca, que um dia antes deu entrada no hospital entre a vida e a morte.

A pequena Mariana Alves Aparício, de 3 anos, também ficou maravilhada ao ver Juca. O tia dela, Marcos Félix, de 43 anos, fez coro:


— É muito bom. Sou fisioterapeuta e sei o quanto esse tipo de atividade é importante para as pessoas, principalmente as crianças. Sem contar, que todas gostam de animais. Deu para ver isso no rostinho delas.


Orgulhosa, a idealizadora e coordenadora geral do projeto, que teve início em 2010, Roberta Araújo, contou que, ao todo, são cerca de 30 bichinhos e 45 voluntários, que dividem entre hospitais e outros espaços.


— Os animais facilitam o trabalho. A pet terapia não substitui o profissional, mas facilita o atendimento dele à criança, por exemplo. O animal é usado para ilustrar o que as crianças passam. Isso cria uma empatia — descreveu Roberta, acrescentando que — os animais distribuem afeto. Eles não têm preconceito.


A voluntária e dona de Juca contou que ela participa desse trabalho com o cão há 1 ano e meio:


— Eu sempre tive vontade de participar de um projeto social. Quando conheci o Pêlo Próximo achei perfeito porque tinha a chance de participar junto com o meu cachorro. Quando ele fez 1 ano, o inscrevi. Depois de dois meses, ele foi chamado. Ele fez tanta coisa boa na minha vida e, poder dividir isso com os outros, é incrível.

Benefícios da Pet Terapia

A psicóloga e coordenadora do Centro de Apoio Familiar do Prontobaby, Nathália Jereissati, disse que, com as atividades, as crianças conseguem ter uma aceitação melhor do atendimento médico.

— A gente tenta fazer com que a criança entenda a importância do tratamento. Como elas passam por procedimentos invasivos, nós colocamos os cachorros nas mesmas condições delas. A gente coloca estetoscópio no cão, simulamos a retirada de sangue e como ver a respiração dele, por exemplo. É um trabalho lúdico e terapêutico. Os cães influenciam diretamente na melhora dos pacientes, proporcionando momentos de alegria e relaxamento. Como consequência, as crianças ficam mais motivadas, melhoram o humor, a recepção aos tratamentos, a socialização e integração com a equipe médica — afirmou a psicóloga.

Assim como as crianças não podem estar muito debilitadas de saúda para participar das atividades, os cães também devem estar vacinados e vermifugados, prevenindo a transmissão de doenças. Além disso, precisam ter um perfil dócil, carinhoso e reconhecida afeição por pessoas.

(*)Daniela de Paula é jornalista de O Globo (oglobo.globo.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O 4Patas agradece a sua presença e seu comentário.
Volte sempre, seja nosso Seguidor