sábado, 28 de janeiro de 2012


Pets obesos: um reflexo da humanização?
Por Jéssica Ferrari no Itu.com





Os pets estão cada vez mais perto das famílias, e conquistam cada vez mais seu espaço de membro. A convivência já é tão próxima que até a alimentação deles não se restringe mais apenas as rações ou biscoitinhos feitos para animais. Eles querem e estão ganhando comida de humanos! A cena de um cãozinho lambendo um sorvete pode ser engraçada, mas é preocupante. Se o excesso de calorias pode fazer mal aos humanos, imagine aos animais.

Além de consumirem alimentos inadequados, muitos pets acompanham a rotina de sedentarismo de seus donos. As atividades de lazer que todo animal de estimação deve ter, como correr, brincar e exercitar seus sentidos – características próprias de um animal - estão sendo deixadas de lado. E assim, não há saúde que aguente.

Os números crescentes de animais domésticos obesos chamam a atenção dos especialistas no assunto. Segundo o relatório do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, divulgado pelo laboratório Vetnil, estima-se que já sejam 40% os cães americanos e 20% os cães brasileiros com esse problema. No mundo ocidental, 25% de toda a população de cães e gatos possui peso acima do normal.

“A obesidade é a doença nutricional mais frequente de cães e gatos”, explica o médico veterinário e proprietário do Clube de Cãompo Hotel Fazenda para Cães, Aldo Marcellaro Júnior. Segundo ele, é possível estimar que se um cão ou um gato consumir regularmente 1% mais calorias que o necessário, ficará quase 25% acima do peso na meia-idade.

Mas não são só as gordurinhas salientes que preocupam. A quantidade de problemas de saúde que podem ser desencadeados pela obesidade nos pets também é grande: afecções articulares, afecções cardíacas, hipertensão, afecções respiratórias, diabetes mellitus, riscos anestésicos e cirúrgicos, interferência nos processos diagnósticos, esteatose hepática, incidência de neoplasias e menor resistência a doenças infecciosas, pancreatite e outras alterações. “A mortalidade é 50% maior em pessoas que estão 20% acima do seu peso ideal. Apesar desses valores não estarem bem estabelecidos nos cães, espera-se dados semelhantes”, conta o veterinário.

Segundo Marcellaro Júnior, a obesidade pode ser classificada como não complicada (resultante primariamente de um consumo calórico excessivo) ou complicada (que surge de outras causas e é necessário que se trate a causa primária). “Diversos fatores de risco contribuem para essa situação como genética, sexo, idade, atividade física e composição calórica da dieta”, afirma.

Meu pet obeso? Será?

Perceber que seu animal de estimação está acima do peso não é tão difícil, mas exige atenção quanto às características de cada raça. Para o veterinário Marcellaro Júnior, uma análise do score corporal do bichinho pode ajudar numa resposta mais precisa. Veja a tabela e mais informações!

Os pets também morrem pela boca e pela preguiça!

Para Marcellaro Júnior, a obesidade é uma condição de balanço energético positivo estocado sob a forma de gordura com efeitos deletérios à saúde. “A obtenção do peso ocorre quando é ingerido mais do que é gasto, o que pode gerar um desequilíbrio na balança de ingestão e gasto de energia”. Por isso a importância das atividades físicas para os bichos e do controle da alimentação deles.

Pode ser difícil resistir aos focinhos “pidões” quando se está a comer uma guloseima, mas pensar na saúde deles em primeiro lugar pode ser uma poderosa arma para sua resistência. E para ajudar seu pet a manter uma alimentação correta e saudável, você pode começar cortando alguns alimentos que não devem nem sequer passar perto deles. Veja lista de produtos perigosos, feita pela veterinária Amanda Carvalho!

O ideal, segundo Marcellaro Júnior, é fornecer somente ração seca de boa qualidade, que pode ser indicada pelo seu veterinário. Isto porque estas rações já são balanceadas com todos os nutrientes que o pet precisa para ter uma alimentação saudável. Evitar petiscos ou comida caseira que contenham muito sal ou gordura também auxilia. “Alimentos que contém açúcar ou principalmente chocolate são proibidos aos animais. Petiscos saudáveis como frutas não ácidas, talos de vegetais como cenoura ou brócolis podem substituir os petiscos industrializados”, explica o veterinário.

Quem também prejudica e muito a saúde dos animais domésticos é o tão conhecido amigo da sociedade moderna, o sedentarismo. O problema possui papel importante no desenvolvimento da obesidade de cães e gatos, ainda mais quando o animal possui a mesma rotina e alimentação do dono. “A maioria dos animais é obesa devido à superalimentação induzida pelo proprietário e/ou a quantidade inferior de exercícios”, explica Marcellaro Júnior. Para ele, cães que não têm a companhia de outro animal, têm uma maior chance de desenvolver a obesidade, pois não terão o hábito de brincar e pular, e com isto consequentemente gastar energia.

Para Marcellaro Júnior, temos que lembrar que existem vários meios de recompensar o cão, do que só com comida. Carinho, um longo passeio ao ar livre, interação com outros animais são ótimas formas de recompensas não alimentares.

Atenção ao tratamento!

Aos 09 anos o cãozinho Bidu da raça Dachshund, mais conhecida como salsicha, começou a apresentar um comportamento diferente, que chamou a atenção de sua dona, a estudante Isabella Boni. “Percebi que ele estava ficando mais preguiçoso, com dificuldade de executar alguns movimentos, e a aparência dele também mudou”, conta.

Preocupada, a jovem levou o animal ao veterinário, que diagnosticou a obesidade e sugeriu um tratamento específico que inclui um plano de perda de peso. “O tratamento indicado foi a introdução de uma dieta, na qual ele deveria comer uma fruta de manhã, no almoço uma vasilha pequena de ração - já que o Bidu é de pequeno porte - e à noite mais uma porção de frutas. Foi indicado também caminhadas, e como ele toma o remédio gardenal por ser epilético, uma diminuição na dose do medicamento”, descreve Isabella.

O tratamento foi seguido por 1 ano e meio, até que a família ganhou um novo cãozinho da mesma raça que Bidu. “A novidade dificultou a manutenção da dieta, por acharmos que ele ficaria com vontade ao ver o outro cachorro comendo. No entanto houve uma melhora na atividade física”, afirma a jovem.

Por não gostar de fazer caminhadas, Bidu foi incentivado a se movimentar por meio de brincadeiras e brinquedinhos de interação, como as bolinhas para pets. Apesar de não ter conseguido manter a dieta corretamente com o animal, Isabella conta que houve grande melhora nas ações dele. “Hoje podemos perceber que o Bidu está muito mais ativo’”, conclui.

O tratamento da obesidade, assim como de outros problemas de saúde dos animais, envolve modificação na dieta, plano de atividades físicas, esforço e cuidados do proprietário. Isso mesmo, a atenção do dono também é eficaz e ajuda muito na melhora do pet.

Segundo Marcellaro Júnior, há quatro estratégias que podem ser utilizadas para redução de peso: dieta hipocalórica, exercício físico, psicologia e medicamentos. Veja abaixo cada uma delas, explicados pelo veterinário:

Dieta + Exercício
A redução de peso requer que a energia ingerida seja menor do que a energia gasta. A perda de 1 quilo de tecido adiposo corresponde a um déficit energético de aproximadamente 7700 Kcal. Este déficit pode ser obtido por um decréscimo de energia ingerida e/ou aumento de energia gasta.

O exercício físico aumenta diretamente o gasto energético, inclusive durante o repouso. Aproximadamente 1 hora de exercício leve por dia, como caminhada, aumenta o gasto energético em aproximadamente 10% sobre uma taxa metabólica basal.

O exercício deve ser implementado gradualmente, iniciando-se com um nível tolerado pelo animal e proprietário, principalmente se houver problemas ortopédicos, cardiovasculares ou pulmonares. A natação pode ser uma alternativa à caminhada e algumas vezes é mais indicada para pacientes ortopédicos. Como a natação implica em maior gasto calórico por minuto que a caminhada, o animal poderá gastar a mesma quantidade de calorias em menos tempo de natação.

Psicologia
Muitas pessoas têm o prazer de alimentar seus animais de estimação condicionando-os ao consumo excessivo através do comportamento de “pedir alimento”. O compromisso do proprietário é o fator mais importante para o sucesso de um programa de redução de peso.

Medicamentos
São utilizados nos tratamentos das doenças metabólicas dos animais, como no caso de um eventual hipotireoidismo. Não há qualquer droga indicada para perda de peso em cães e gatos que tenha sido plenamente avaliada quanto à segurança e eficácia.

Deixar que seu animal de estimação entre de vez na rotina de sua família não significa tratá-lo como ser humano, ou enxergá-lo como tal. A humanização dos animais não deve ser baseada em excessos, e sim em cuidados especiais e muito carinho. Só assim os problemas dos humanos não atingirá os nossos amigos de quatro patas. Animal é companheiro, não um reflexo do dono!

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