sábado, 21 de janeiro de 2012




Conhecida pela fama de sacrificar animais e pela folclórica “carrocinha”, Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde do GDF faz campanha contra o abandono e estimula a adoção dos bichos, em especial cães e gatos

Quando se fala em cães, gatos e demais animais de estimação, a palavra “carrocinha” costuma assustar donos e simpatizantes. Mas o antigo e folclórico serviço do departamento de Zoonoses, que recolhia os bichinhos nas ruas e os levava presos para serem, muitas vezes, sacrificados, hoje está longe de ter esse propósito como prioridade. No Distrito Federal, o trabalho da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde, vinculada à Secretaria de Estado da Saúde, é voltado a ações de estímulo à adoção e de conscientização das pessoas sobre como tratá-los – além do cuidado, controle e prevenção de doenças virais como raiva e leishmaniose.

De acordo com a diretora de Vigilância Ambiental em Saúde, Regina Scala, os períodos de festas e férias são os mais propícios ao abandono de animais, especialmente nos meses de janeiro, julho e dezembro. Diferentemente do que era observado anos atrás, entretanto, os cães e gatos deixados nas ruas não são mais recolhidos, salvo algumas exceções. “As pessoas pensam que largando seus bichos eles serão levados para a Zoonoses, mas isso não ocorre mais. Percebemos que o trabalho não tinha o resultado esperado e ainda por cima incentivava esse ato de abandono”, explica Regina Scala.

A mudança da prática se deu porque, antes, acontecia muito das pessoas viajarem, deixarem seus bichos de estimação na rua e terem a certeza de que, ao retornarem para casa, poderiam ir buscá-los no setor de Zoonoses e tê-los de volta mediante o pagamento de uma pequena multa. Hoje, quem fizer isso pode ser indiciado por crime, de acordo com a Lei Federal 9.605/98 – que coíbe os maus tratos – e ainda por cima corre o risco de vê-los sendo encaminhados para um novo lar, por meio da adoção.

Segundo a diretora, esta tem sido a melhor alternativa para conscientizar a população. Mesmo assim, vários cães e gatos ainda vão parar no setor de Zoonoses porque são abandonados à própria sorte e não mais procurados pelos donos.

Outro serviço feito pelo departamento mediante regras claras é o de atendimento aos animais que apresentam sintomas de doenças tidas como prejudiciais para a saúde da população. Conforme informações da diretora, muitos donos acabam levando seus bichinhos até lá para se livrar de possíveis problemas que necessitam cuidados mais atentos ou por estarem com idade avançada. A diretoria, no entanto, não os recebe nessas situações, uma vez que o objetivo do trabalho realizado é recolher apenas os que possuam distúrbios comportamentais ou de saúde.

Adoção – São oferecidos às pessoas interessadas os bichos abandonados – e que têm de ser recolhidos – considerados dóceis e saudáveis. Eles são submetidos, primeiro, a consulta veterinária e, se tidos como aptos, são oferecidos para adoção. A Zoonoses incentiva pessoas que queiram adquirir um animal de estimação a ir até lá e conhecer os bichinhos disponíveis, tanto filhotes como adultos, com ou sem raça definida (SRD, popularmente conhecidos por vira-latas), prontos para dar e receber carinho de seus futuros donos.

Para a diretora, os animais de mais idade têm dificuldade para serem adotados, porque é comum as pessoas preferirem os mais novos. Quando se tratam de filhotes que ainda estejam amamentando, quem estiver interessado em adotar só pode levá-los para casa se quiser, também, os irmãos e a mãe. Caso contrário é preciso aguardar o período de desmame para buscá-los.

Crime – “Quando as pessoas pegam um animal para criar não se atentam que ele irá crescer, envelhecer e ficar doente. Por isso, antes de adquirir o bicho, a pessoa tem que pensar nas obrigações que terá com ele”, afirma Regina. “Não é como uma criança, que cresce e logo fica independente. O animal precisa do dono e de seus cuidados por toda a vida. Por isso, todos devem lembrar que terão a responsabilidade por, pelo menos, dez ou 15 anos”, completa.

Por conta disso, o artigo 32 da Lei Federal 9.605/98 considera o abandono de animais como um tipo de mau-trato e prevê pena de seis meses a um ano, com acréscimo de um sexto do tempo em caso de reincidência.

Saúde Pública – Hoje, o trabalho mais desempenhado pela carrocinha do setor de Zoonoses, no DF, é recolher os animais quando esses se tornam um risco para as pessoas, como em ataques de cães agressivos. Outro caso que pode levar ao acionamento do serviço é o de animais com doenças virais causadoras da raiva e da leishmaniose. Nessas situações, os agentes vão até as áreas de risco e verificam se são apresentadas características das doenças. Os donos também podem chamar os técnicos do setor para que sejam realizados exames comprovando ou não a hospedagem dos vírus.

Se comprovada a doença o bicho é recolhido, mas nem sempre sem problemas. Em muitos casos, os proprietários não aceitam entregá-los e a Zoonoses não pode levá-los à força. “Muitas vezes um animal de estimação tem leishmaniose, mas como não apresenta sintomas, os donos acham que não devem entregar. Passados alguns dias e identificados os sintomas, os próprios donos nos ligam pedindo que os busquemos”, conta a diretora.

Quando há, por parte do próprio dono, suspeita de alguma doença do animal, o procedimento da Zoonose costuma ser o seguinte: primeiro, o departamento realiza dois exames. Depois, é solicitado um terceiro, se necessário, por uma clínica particular, cujo pagamento sairá do bolso do proprietário.

Após ser recolhido, o bicho de estimação considerado doente fica em observação até que o vírus apresente os sintomas da doença. Depois de alguns dias, se for leishmaniose a doença que o acomete, será sacrificado, porque não existe tratamento ou cura definitiva. O processo é realizado por um veterinário, mediante sedação e aplicação de droga que faz parar, em poucos instantes, o coração e a atividade respiratória do animal, de forma a evitar maior sofrimento em decorrência da doença.

Prova de amor – Como todo mundo que já teve ou tem um bichinho de estimação sabe do amor que esses seres despertam nas pessoas, a diretora conta que, se por um lado não é difícil aparecer gente na porta da Zoonoses querendo se livrar de seus animais, também é grande o número de pessoas apaixonadas por eles e que vão até o local na tentativa de recuperá-los.

São pessoas como o pai de família Antonio Gonçalves, cujo cão desapareceu no último final de semana. Gonçalves foi até lá na esperança que ele tivesse sido recolhido pela carrocinha e pudesse levá-lo para casa, o que acabaria com as lágrimas da filha, de dez anos. “Minha filha tem chorado muito. Por isso, minha esposa pediu para vir aqui”, enfatizou, chateado porque o cachorro não foi localizado.

O gesto do pai de família reproduz uma cena que vem de tempos remotos. Desde que cães, gatos e outras espécies abandonaram a selvageria para viver dentro das casas e se tornaram companheiros e protetores de seus donos, esse tipo de amizade passou a ser cultivada para a vida inteira.

Correio do Brasil - Suzano Almeida, da Agência Brasília

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