domingo, 19 de maio de 2013

Cão atropelado no ABC é adotado por policiais e celebra aniversário.

Cão atropelado no ABC é adotado por policiais e celebra aniversário.
por Glauco Araújo Do G1 São Paulo, em Santo André
PC usou gravata, tomou banho e usou perfume de uva em seu aniversário na delegacia (Foto: Glauco Araújo/G1)PC usou gravata, tomou banho e usou perfume de uva no aniversário na delegacia (Foto: Glauco Araújo/G1)


Um cão sem raça definida recebeu, às 20h desta quinta-feira (16), uma festa de aniversário no estacionamento do 4º Distrito Policial de Santo André, no ABC. A celebração também teve o objetivo de marcar a conclusão da recuperação do animal, que foi atropelado perto da delegacia, em maio de 2012, e foi socorrido pelos policiais civis que estavam de plantão à época. Ele esteve à beira da morte, chegou a ser desenganado inicialmente por causa da gravidade dos machucados, mas hoje faz companhia a quem circula pela delegacia.




O cardápio da festa teve bolo feito de ração, pequenos ossos bovinos ao longo do dia e um osso de pernil durante os parabéns. Para participar da comemoração, o cachorro ganhou banho especial em um pet shop vizinho ao DP com direito a perfume de uva e gravata, além de uma lavagm especial da casinha de plástico que tem a inscrição improvisada de seu apelido, PC.

PC durante recuperação da cirurgia feita após atropelamento (Foto: Agamenon Gonçalves/Arquivo pessoal)PC em recuperação da cirurgia feita após
atropelamento em Santo André (Foto: Agamenon
Gonçalves/Arquivo pessoal)

“O nome dele foi escolhido por causa das cores preta e branca, que são as mesmas da Polícia Civil. Depois, por causa do custo elevado que tivemos com a saúde dele, por brincadeira, falamos que o PC é por ele ser ‘Prejuízo Certo’”, disse o chefe de investigação do 4º DP, Agamenon Francisco Gonçalves, um dos responsáveis por cuidar do cachorro.


História de superação canina
A relação de PC com os policiais começou na manhã de 24 de maio de 2012, quando aquele cachorro ainda pequeno, parecendo ser filhote, malhado em preto e branco, apareceu no plantão da delegacia. “Ele brincou com todos os funcionários e até com as pessoas que estavam registrando ocorrências. Horas depois de receber comida e carinho de todo mundo, ele desapareceu”, disse Gonçalves.

Algumas horas depois do desaparecimento do PC, um motociclista apareceu no plantão da delegacia, com um ferimento ensanguentado no pescoço falando que tinha um cachorro atropelado na Avenida José Antonio de Almeida Amazonas, perto do DP. Os policiais perguntaram se o motociclista queria registrar uma ocorrência sobre isso, mas ele negou, dizendo que queria que alguém ajudasse a socorrer o cachorro.

“A gente pegou uma viatura e fomos ao local do acidente. Quando eu cheguei, vi o PC todo quebrado, cheio de sangue, deitado na rua. Quando ele me viu, mesmo sem conseguir se mexer direito, ele só abandonou o rabo. Parecia que ele tinha me reconhecido por dar comida a ele horas antes. Nesta hora, as pessoas que se aglomeraram no local perguntaram se a gente não iria socorrê-lo. Quando colocamos o PC na viatura fomos aplaudidos”, disse o chefe de investigação.

“Prejuízo Certo”
Gonçalves levou o cachorro a uma clínica veterinária para fazer os primeiros socorros e deixou o animal internado. “Quando voltei no dia seguinte, eles falaram que os ferimentos eram graves, que ele tinha fraturado a cabeça do fêmur, que precisaria passar por internação. De cara tive de dar um cheque de R$ 600 pelo atendimento emergencial. Depois foi mais de R$ 1 mil pela cirurgia, mais outros tantos de medicamentos. A sorte que gosto de cachorro”, disse Gonçalves.

Segundo ele, escrivães, delegados e investigadores fizeram várias vaquinhas para ajudar a custear o tratamento de PC, que incluiu fisioterapia e até a confecção de uma bota metálica para que o cachorro pudesse andar sem prejudicar a cicatrização.

A veterinária Débora Monteiro, responsável pelo tratamento do PC, afirmou que o cachorro sofreu fratura do fêmur da pata traseira direita e fratura da cabeça do fêmur da pata traseira esquerda. "Ele passou por cirurgia, teve alta três dias depois. Colocamos uma placa de aço na pata fraturada e a calcificação completa da lesão foi concluída em janeiro deste ano. Ele está ótimo e teve uma recuperação muito boa por ser novinho."

Para o delegado titular do 4º Distrito Policial, José Rosa Incerpi, a presença do PC no local deixa o ambiente, normalmente tenso de uma delegacia, mais ameno. “Ele descontrai, brinca com as pessoas, deixa o ambiente mais alegre.”



PC faz pose ao lado de toalha com a estampa do Timão (Foto: Agamenon Gonçalves/Arquivo pessoal)PC faz pose ao lado de toalha com a estampa do Timão 
(Foto: Agamenon Gonçalves/Arquivo pessoal)


Sequestro de cachorro “policial”

O investigador Gonçalves tem histórico de recuperar cachorros das ruas. Na década de 1990, quando trabalhava no 1º Distrito Policial de Mauá, no ABC, ele também cuidava de outros cachorros. Naquela época, no plantão policial era possível ver o 157, cachorro que ganhou esse apelido em referência ao artigo 157 do Código Penal Brasileiro (CPB), que trata do crime de roubo. “Ele ganhou esse apelido depois de roubar o bife da marmita de um carcereiro”, disse Gonçalves.

O 157 ganhou fama no meio policial e o ódio dos presos encarcerados na extinta Cadeia Pública de Mauá, que funcionava em prédio anexo, aos fundos, do 1º DP da cidade. "Ele ficava na muralha e uma vez evitou uma fuga em massa quando começou a latir para um preso que tentava escapar da cadeia. Com o barulho que ele fez, os carcereiros e policiais conseguiram conter a ação dos criminosos”, afirmou Gonçalves.

Jurandir se aposentou depois de "atuar como policial" durante anos em Mauá (Foto: Agamenon Gonçalves/Arquivo pessoal)Jurandir se aposentou depois de "atuar como
policial" durante anos em Mauá (Foto: Agamenon
Gonçalves/Arquivo pessoal)




Por conta disso, 157 foi sequestrado, segundo o investigador. “Soubemos que ele foi levado e nos avisaram que o desaparecimento dele era um sequestro. Não pediram resgate, mas apenas queriam que o cachorro não ficasse na muralha. Conseguimos descobrir quem tinha feito aquilo, eram parentes dos presos que levaram o cachorro. Quando começamos a descobrir o paradeiro dele, devolveram o 157”, disse Gonçalves.

Anos depois, o cachorro desapareceu de vez. “Nunca mais tivemos notícia”. Na mesma delegacia, naquela época, conviveram os cachorros Jurandir e Lau. “O Jurandir recebeu esse nome porque mancava e, pouco tempo antes de ele aparecer, um policial chamado Jurandir tinha machucado o pé e também mancava. Hoje, o cachorro se aposentou da polícia e mora comigo. E tem a Lau, que mora em casa também. Os dois apareceram juntos e hoje têm 14 anos.”

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