segunda-feira, 15 de julho de 2013

Posse Responsável.










Posse Responsável.

Qual a melhor solução?

por Ellen Colombo (Correio do Norte Online)




Basta passear pelas ruas para ver: eles estão por toda parte. Em Canoinhas e em várias cidades da região, esta é uma realidade que preocupa. Algumas vezes sozinhos, outras em bando. No centro da cidade ou em qualquer bairro a população é obrigada a dividir espaço com os animais. Cachorros e gatos sem dono vagam pelas ruas. Além de serem um risco para a segurança e saúde pública, estão na maioria das vezes esfomeados e doentes. O poder público enfrenta um dilema. O que fazer com os cães perdidos e abandonados que estão pelas ruas? Afinal, todo controle animal é de responsabilidade pública.
Em Canoinhas, um projeto que vem dando certo é o aplicado pelo Setor de Controle de Zoonoses, que faz parte da Secretaria Municipal de Saúde. Entre as ações desenvolvidas estão visitas a animais que agridem cães, gatos e primatas. Só no ano de 2012 foram feitas 488 visitas a animais agressores na cidade e no interior. Além disso, são feitas coletas de amostras de sangue de animais para prevenção e controle da raiva. Em Santa Catarina, a doença está controlada desde 1981, mas não está erradicada. Por isso é feito o controle, inclusive com animais que morrem atropelados nas ruas. De acordo com o veterinário e responsável pelo setor de controle de zoonoses de Canoinhas, Edson Radünz, estudos comprovam que animais com raiva são mais propensos a serem atropelados, pois perdem a noção de espaço e acabam não desviando os carros.
Outra ação que tem tido bons resultados é a castração de animais. São feitas 600 castrações por ano. “Não conseguimos fazer mais devido ao reduzido número de pessoas trabalhando neste setor”, explica. Contudo, mesmo com apenas dois profissionais, um médico veterinário e um auxiliar, já foram feitos 1.800 castrações. “Apenas quatro animais morreram em todos esses anos, e por outras causas”, comenta o médico veterinário. Ele conta que, no início, pensavam que em quatro anos estariam colhendo os frutos das castrações. “Para nossa surpresa, no primeiro ano já vieram reconhecimentos. A população tem visto isso os resultados”, explica.
Radünz ressalta que o programa de castrações é legalizado pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). O veterinário conta que os agentes de saúde do programa Estratégias Saúde da Família (ESF) colaboram para o cadastramento dos animais no município. Mais de 800 animais cadastrados esperam para serem castrados. Contudo, não são possíveis mais que cinco cirurgias por dia. A fila para castração aumenta diariamente: mais de 15 animais por dia.

RESPONSABILIDADE
Além da excessiva demanda, outro fator importante que é destacada pelo profissional é a falta de conscientização quanto à divulgação da posse responsável, dos maus tratos e do abandono de animais.
Para a presidente da Organização Não Governamental (ONG) Anjos de Patas, de Canoinhas, a veterinária Priscila Bastos Kammradt, tudo começa com a educação. “A posse responsável permite que as pessoas saibam o que é ter um animal, pois muitas vezes as pessoas compram ou dão de presente um filhote, por ser bonitinho quando pequeno, e não se responsabilizam pelo bem estar do animal depois que ele cresce”, explica.
Há mais de dois anos a ONG atua com o objetivo de divulgar os direitos dos animais, adotando medidas educativas de cuidados e proteção, incentivando a adoção e a posse responsável que valorize e garanta o bem-estar dos animas. Contudo, a ONG não tem espaço próprio para abrigar cães e não está fazendo recolhimento. “Prestamos assistência para cães atropelados, fazemos o tratamento e encaminhamos para tentar adoções, mas na maioria das vezes os próprios voluntários da ONG acabam ficando com os animais.”
Segundo ela, a ONG tem trabalhando com cautela, pois não tem para onde levar os cães de rua. “Estamos tentando parcerias com a prefeitura, que tem colaborado com material, e temos diversos projetos futuros em mente, mas são ações em longo prazo”, destaca. Para ela, é preciso unir forças para amenizar o problema. “É preciso que parcerias sejam feitas, inclusive com universidades que muito têm a ganhar com isso em projetos científicos”, argumenta. Porém, segundo ela, poucas são abertas a diálogos e isso acaba complicando a situação. “A população tem interesse em resolver essa situação, é uma questão de segurança pública e ambiental, mas muitas vezes falta diálogo com universidades da região”, lamenta.

SOLUÇÕES
Priscila acredita que o caminho para tentar solucionar o problema, seja estabelecer parcerias para que o município possa contar com um abrigo para cães de rua. “Precisamos ter um lugar onde possamos colocar esses animais, mas a falta de apoio dificulta”, diz. Ela explica que a ONG está trabalhando conforme suas forças. “A população reconhece nosso trabalho, estamos fazendo o que podemos. Auxiliamos uma senhora que cuida de cerca de 50 cães de rua com doação de ração que recebemos da empresa Dal Pet. Além disso, fazemos atendimentos e recuperação de cães de rua.”
Atualmente, somente cinco voluntárias participam ativamente da ONG. Priscila vê com bons olhos o projeto do Setor de Controle de Zoonoses da prefeitura, mas destaca que esse projeto trará resultados em longo prazo e não descarta a ideia de que é preciso um abrigo para cães em Canoinhas. Já Radünz é enfático em alegar que um canil municipal não resolveria o problema.
Estudos desde o ano de 2003 indicam que não é viável para o município ter um canil. Segundo o veterinário, o projeto de castrações é viável e funcional. Ele conta que a intenção inicial era recolher os animais de rua em um canil municipal. No ano de 2006 foram arrecadados R$ 45 mil para a construção deste canil e visitaram outros municípios que possuem canis para encontrar a melhor forma de trabalhar. “Nas diversas visitas que fizemos, a primeira coisa que ouvíamos era: não façam um canil.” De acordo com o veterinário, os canis funcionavam bem enquanto se podia fazer eutanásia. Antigamente, os cães que iam para canis eram sacrificados. Mas a prática da eutanásia foi proibida por uma lei estadual, desde 2008. Resultado: os canis estão lotados e não podem dar boas condições aos cães. “Devido a essas informações, aos poucos a ideia de um canil em Canoinhas foi sendo descartada.
Estudos apontam que menos de 2% dos animais de rua são moradores de rua. A maioria está na rua e tem uma residência. “Esses cães saem de casa e ficam perambulando pelas ruas, mas não moram nas ruas”, explica o veterinário.
De acordo com ele, o Ministério Público tem cobrado dos municípios diminuição da população animal e um controle populacional animal mais efetivo. “Dados do Conselho Regional de Medicina Veterinária apontam que, para cada bebê que nasce, 15 cães e 45 gatos também podem nascer. Em seis anos, uma cadela e seus descendentes podem gerar 64 mil filhotes. Neste sentido, a castração é a estratégia mais eficiente”, comenta o veterinário que já participou de Congressos em Brasília, São Paulo e em cidades de Santa Catarina para expor o projeto do Setor de Controle de Zoonoses de Canoinhas a outros municípios, além de ajudar os interessados na implantação do mesmo sistema.

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