sábado, 24 de dezembro de 2016

Feliz Natal





Uma fábula oriental descreve um ajuntamento de ociosos em pequeno mercado nos arredores de Jerusalém, em torno de um cão morto que ainda mostrava, amarrada ao pescoço, a corda com que o haviam arrastado pelo chão. Os que o cercavam, olhavam-no com repugnância.

- Empesta o ar - disse um, apertando o nariz com os dedos e trejeitando uma careta de nauseado.

- Reparem na sua pele rasgada que nem para correias de sandália serve - galhofava um outro.

Um egípcio corpulento aludiu às orelhas sujas e sangrentas do animal, e rematou com voz empastada:

- Foi, sem dúvida, enforcado por ladrão.

Desse grupo de homens aproximou-se um desconhecido que ouvira os diversos comentários. Em seu rosto resplandecia estranha luz e todo o seu porte indicava dignidade fora do comum. Pondo os olhos meigos no animal morto e vilipendiado, disse em seu belo e límpido arameu:

- As pérolas desmerecem diante da alvura dos seus dentes.

Todos os circunstantes voltaram-se para ele com assombro, e, vendo-o tão sereno e compadecido, indagavam, entredentes, uns aos outros, quem poderia ser aquele homem. E retiraram-se cabisbaixos, envergonhados, quando alguém disse:

- “Ele é Jesus, o rabi de Nazaré, e só Ele sabe encontrar qualquer coisa digna de piedade e aprovação, até mesmo num cão morto!”





(Lendas do bom rabi - Malba Tahan)

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