por Maria Fernanda Ziegler, iG São Paulo
Estudo mostrou como felinos usam leis da gravidade e inércia para conseguir saciar sua sede
Todo dono de gato que se preze é capaz de ficar horas falando que seu bichinho de estimação é sabido, faz peripécias e é cheio de personalidade. Agora, eles vão ficar insuportáveis: engenheiros do MIT (Massachussetts Institute of Technology) comprovaram que o simples ato de beber água ou leite por parte dos felinos demonstra um total conhecimento de Física e mecânica de fluidos. O estudo foi publicado na edição desta semana do periódico científico Science.
Primeiro, é preciso explicar que os felinos têm as chamadas bochechas incompletas, onde a boca avança pela lateral da face e possibilita que muitos carnívoros tenham mais facilidade para matar ou capturar as suas presas. O ponto negativo disso é que gatos não podem sugar. E é exatamente com esta habilidade, que humanos, e outros animais, conseguem beber líquido numa garrafa, e até beijar.
Mas a análise de vídeos em câmera lenta pelos pesquisadores do MIT mostrou que os gatos elaboraram uma estratégia eficiente para não se lambuzar ou morrer de sede. Os pesquisadores do MIT observaram que a língua sai da boca do gato como um "J", onde a parte superior da língua é a única a tocar na água. Depois disto, o gato recolhe a língua para cima de volta à boca, de uma maneira muito rápida - aproximadamente 1 metro por segundo. Isto resulta na criação de uma coluna de líquido que é 'esticada' por inércia. Quando o gato fecha a boca, ele bebe parte desta coluna.
”O que é fantástico é que o gato sabe exatamente quando fechar a boca e repete o processo em uma frequência que aumenta o volume ingerido. Se ele esperasse mais uma fração de segundo, a gravidade faria com que a coluna se rompesse e a maior parte cairia novamente na tigela. É aqui que os gatos mostram claramente o seu 'profundo conhecimento' de física e mecânica de fluidos!”, disse ao iG Pedro Reis, autor do estudo.
A explicação física do processo envolve as leis da inércia e da gravidade. Reis esclarece que o movimento da língua induz um deslocamento vertical, para cima, da água e a coluna cresce em altura e diâmetro. “Na fase inicial, a inércia ganha da gravidade. No entanto, se o gato não fechasse a boca no instante correto, uma vez que a coluna crescesse muito, ela se tornaria pesada demais, se romperia e a maioria da água cairia de volta à tigela”, disse.
Neste ponto, os gatos ganham dos cães na batalha para saber qual animal é o mais sabichão. Com os cães, que também têm bochechas incompletas, as coisas acontecem de forma diferente. Para beber água, a língua sai da boca do animal na mesma forma de um "J" mas, ao contrário dos gatos, eles utilizam a parte inferior do "J" como uma colher. “Do ponto de vista de mecânica de fluidos, este processo é muito menos interessante”, disse.
Pergunta que nunca havia sido feita
O interesse no assunto surgiu a partir da observação de outro autor, Roman Stocker - que estuda no MIT a mecânica dos fluidos dos movimentos de microorganismos do oceano - do seu próprio gato, um dia durante café da manhã. O estudo, que não recebeu financiamento, durou três anos para descrever matematicamente o processo e pode ser aplicado em robôs que captem líquidos sem sucção. “Pode parecer uma questão óbvia e trivial, mas ninguém havia se perguntado antes como os gatos bebem. Aparentemente, o gato parecia lutar contra a gravidade para trazer a água para a sua boca. Mas a questão é como fazem isso”, disse Reis.
Para entender melhor a dinâmica de o gato beber água, a equipe de pesquisadores criou uma versão robótica da língua do gato que se move para cima e para baixo sobre uma tigela de água. “Há inúmeros processos no dia-a-dia que ainda percebemos muito mal, ou simplesmente não temos nenhuma ideia”.
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