O Veterinário Alfredo Lima fala sobre os benefícios do procedimento.
Entre março e abril, a Prefeitura Municipal de Piraju vai promover o 1º mutirão de castração de animais. Nesta etapa serão castradas 100 cadelas fêmeas do abrigo da Dona Maria. Em reunião com membros da Associação Protetora dos Animais, o Diretor Administrativo da Prefeitura, Ronaldo Guardiano, afirmou que serão realizados mais dois mutirões ainda esse ano, promovendo a castração dos animais de rua. O profissional responsável pelas castrações, Dr. Alfredo Lima, da UNESP de Botucatu, explica nesta entrevista as particularidades da cirurgia minimamente invasiva e comenta os benefícios da castração para a saúde pública.
1- Há quanto tempo você atua como veterinário? Fale um pouco de sua trajetória e carreira.
Sou carioca, tenho 44 anos de idade. Graduei-me pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1996. Durante os anos de 1997 a 1999 estive em Londrina mais especificamente na Universidade Estadual de Londrina (UEL) atuando como residente na Clínica e Cirurgia de animais de companhia no Hospital Veterinário desta Universidade. Em 2000 retornei a Salvador onde tive a oportunidade de ministrar aulas como Professor substituto na disciplina de Técnica cirúrgica e obstetrícia. No ano de 2001 me mudei para Botucatu onde fiz meu mestrado e Doutorado em Cirurgia Veterinária. No ano de 2008 fui contratado pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde ministrei aulas de Técnica e Patologia Cirúrgica pelo período de 1 ano.
Em 2009 retornei ao Brasil para desenvolvimento de um projeto de Pós Doutorado fomentado pela FAPESP, onde busquei elucidar algumas dúvidas a respeito das cirurgias contraceptivas em cadelas. Após o término de meu Pós Doutorado, fui aprovado num concurso na FMVZ UNESP Botucatu para o cargo de Professor Substituto no Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária.
Desde 2002 venho atuando juntamente com a UNESP Botucatu em programas de controle populacional. Inicialmente tínhamos um programa vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, no qual promovíamos cursos de capacitação Médicos Veterinários em cirurgias contraceptivas minimamente invasivas, visando torná-los capazes de atuar em mutirões de cirurgias contraceptivas minimamente invasivas em suas regiões. Atualmente esses cursos não estão mais vinculados à Secretaria de Saúde, mas ainda continuam sendo oferecidos com a mesma finalidade. No momento atuo como professor voluntário no Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária.
Venho atuando durante todo esse tempo em diversas cidades do Estado de São Paulo, promovendo mutirões de controle populacional e Educação sobre Guarda responsável.
2- Como é feita essa cirurgia minimamente invasiva nas fêmeas? Qual a diferença dela para a castração tradicional?
Na verdade a castração em machos (orquiectomia) pode ser uma cirurgia mais rápida e menos cruenta, desde que sejam respeitados os conceitos determinados para essa técnica, controle adequado das possíveis hemorragias oriundas das veias e artérias e também da experiência do cirurgião conta muito. Trata se também de uma cirurgia contraceptiva definitiva, o que significa que um cão/gato castrado não terá mais crias. Uma alternativa para aqueles que não desejam que seus cães machos cruzem, mas não aceitam castrá-los, é a vasectomia, onde procede se com a secção e ligadura do ducto deferente, semelhantemente como realizada nos homens. Ao meu ver, é um bom método para controle populacional, mas não evita que os problemas gerados pelos machos circulando pelas ruas, brigando por fêmeas, sofrendo maus tratos, transmitindo doenças para os outros e para a população humanap estejam presentes. Por isso acho que no momento devemos mesmo é promover castrações, como uma ferramenta de controle populacional nos machos também.
Já a castração das fêmeas (ovariossalpingohisterectomia) é uma cirurgia onde ocorre a entrada no abdômen, e uma vez tendo sido penetrada a cavidade abdominal, promove-se a ligadura dos vasos sanguíneos e a retirada dos ovários, tubas uterinas e útero. Todo esse procedimento exige mais tempo quando comparada à castração em machos. A vantagem das cirurgias minimamente invasivas em relação às realizadas com pela técnica cirúrgica tradicional, é que na primeira técnica o animal sofre menos trauma cirúrgico, por ser um procedimento menos invasivo, menos manipulatório, mais rápido e com menores custos. Desde que o cirurgião tenha domínio sobre essa técnica, essa lhe propicia realizar um número maior de cirurgias por dia, o que é interessante para um programa de controle populacional, já que existe a necessidade de castrarmos um número elevado de animais. Gostaria de ressaltar que a castração de fêmeas é a cirurgia eletiva mais realizada dentre todos os procedimentos cirúrgicos, seja para controle populacional ou por casos onde haja doenças acometendo o aparelho reprodutivo, mas nem por isso deve ser realizada de forma contrária aos padrões exigidos pela técnica cirúrgica, e claro por um Médico Veterinário.
As castrações de fêmeas podem ser realizadas a partir do quinto mês de idade, desde que todas as vacinas já tenham sido aplicadas, inclusive a vacina contra a raiva.
3- Qual a importância de se castrar os animais de rua?
Na verdade quero elucidar que não existe importância somente em castrarmos animais de rua, mas sim todo aquele animal sem fins reprodutivos, uma vez que por se tratar de um método contraceptivo definitivo, as cirurgias contraceptivas evitam uma série de danos e crias indesejadas. Dentre os benefícios das cirúrgicas contraceptivas em animais podemos citar: a procriação indesejada e indiscriminada, a redução de incidência de tumores mamários, o bloqueio da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, a diminuição das agressões tanto aos animais errantes quanto à população, a melhoria da saúde pública como um todo, tendo em vista que muitos animais sem cuidados veterinários acabam por se tornar fontes de transmissão de zoonoses, e por fim, a melhoria da qualidade de vida dos animais.
4- A castração desses animais é de responsabilidade do Poder Público?
Na verdade a responsabilidade é de todos, mas o poder público muitas vezes se torna ausente, ou melhor, os governantes fazem pouco caso a respeito da causa. No estado de São Paulo existe legislação (vide Boletim Epidemiológico Paulista) vigente que rege que todo o município do estado de São Paulo deve ter um programa de controle populacional e educação sobre Guarda responsável, inclusive havendo verba disponível no orçamento para tal fim.
5- É notável por parte de algumas pessoas um ‘preconceito’ contra a castração dos animais. Eles acham que o procedimento machuca ou que tira a ‘alegria de viver’ do animal. Você, veterinário, nota esse preconceito? O que pode ser feito para mostrar às pessoas que esse pensamento não é correto?
Esse conceito por parte da população existe sim, mas isso se dá em função de ainda não termos alcançado um grau elevado de educação sobre a guarda responsável de animais, o que gera todo esse processo de abandono, maus tratos e descaso para com os animais. Esse preconceito é bem evidente nos proprietários de animais machos, pois ainda impera certo machismo e preconceito no que se refere à cirurgia contraceptiva de machos. O que devemos fazer para obtermos melhorias nesse aspecto é educar a população, trazer para ela as informações necessárias a respeito das cirurgias contraceptivas e seus benefícios tanto para nós seres humanos, quanto para os animais.
Gostaria de terminar essa matéria dizendo que as cirurgias contraceptivas são somente um dos pilares para atingirmos o controle populacional de cães e gatos, no entanto existem ainda dois outros pilares que são a educação sobre a Guarda Responsável de animais e a identificação animal. Sem a adoção dessas três medidas de forma incisiva, não será possível obtermos uma satisfatória condição de qualidade de vida tanto dos animais quanto dos seres humanos.
Fonte: observadorpiraju.com.br
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