Ayrton Mugnaini Jr.
“Você é o que você come”. Esta frase acabou virando lição de boa alimentação e também estereótipo. Vejam só: não demora muito para se associar gaúchos a churrasco, italianos a pizza, alemães a chucrute, árabes a esfirras, espanhóis a paella e assim por diante. Daí é um passo para lembrarmos do mundo animal: pássaros e alpiste, vacas e grama, macacos e banana, gatos e leite e... isso mesmo, cães e ossos.
Folclore e regionalismos vão até onde começa essa coisa estranha chamada nutricionismo: esta ou aquela comida não é necessariamente boa – ou ruim – para a saúde só por ser típica deste ou daquele local, pessoa ou bicho. E osso, mais que alimento ou guloseima típica de cães, rendeu uma boa coleção de símiles.
Uma pessoa muito apegada a algo é comparada a “cachorro que não larga o osso”; muitos esperam que outros se contentem com “sobras”, “migalhas” ou “ossos”; e uma tarefa, situação ou pessoa muito difícil é isso mesmo, “osso duro de roer”. Pois bem, vamos atacar a questão direto “no osso”: é verdade mesmo que ossos podem fazer mal ao cão? Bem, sem querer fazer suspense, vejamos.
Prós e contras
Mastigar ossos – assim como qualquer coisa razoavelmente dura – é bom para ajudar o peludo a se libertar do tártaro e sujeira que se acumulam nos dentes e gengivas. Os nutrientes que ele encontra nos ossos, como proteínas e sais minerais, também fazem bem a ele – especialmente os que tiverem carne e tutano. Além disso, roer ossos é um bom passatempo para o cão, especialmente se ele precisar ficar preso em casa devido a chuva forte ou outro motivo de força maior e se estiver na fase de mastigação.
Mas todo exagero é perigoso. Dar um osso ao canino não significa todo e qualquer osso que aparecer. Para começar, ossos muito pequenos e “engolíveis” podem parar na garganta e causar sufocação, além de perfurar ou obstruir os órgãos internos do bicho.
Verifique também se o osso, ao ser mastigado, não se quebra em lascas ou pedacinhos que possam ser engolidos. Ossos de peixes e aves estão entre os maiores “vilões”, além de ossos de costeletas e “tibones” bovinos. Cães de raças que mastigam duro e forte, como o Bull Terrier, podem ingerir fragmentos pequenos de osso e estes, por sua vez, podem ir se acumulando e misturando às fezes, com risco de prisão de ventre – que, conforme o caso, pode até exigir cirurgia abdominal para remover a mistura de cocô e osso. Além de engolidas, lascas de ossos podem prender nos dentes ou gengivas do cão, exatamente como espinhas de peixe para os humanos.
Tem mais: se o peludo estiver ansioso por algum motivo, poderá ir engolindo o osso, ração ou o que for sem mastigar ou salivar o suficiente para facilitar a digestão. É o caso de observar e tranquilizar o cão, se for preciso até com a ajuda do veterinário.
Com tudo isso, não é à toa que muitos chegam a radicalizar, recomendando eliminar de vez os ossos da dieta e prazer do cão. Mas radicalizar também pode ser exagero e, portanto, perigoso.
Precauções e remédios
Cuidado com ossos duros demais, e osso cru é sempre melhor que cozido, por ser mais fácil de digerir. Se o bicho demonstrar dificuldade em evacuar e o cocô estiver muito duro ou seco, ou se o peludo estiver demorando a aprender a mastigar como se deve, diminua a quantidade de ossos ou, em último caso, substitua-os de vez por garrafas pet ou outro passatempo-petisco menos perigoso. (E não se esqueça de correr com ele ao veterinário se a prisão de ventre persistir!) Ossos recomendados incluem os das articulações e peitoral do boi e os maiores cheios de tutano.
Como já dissemos, ossos de peixes e aves devem ser tão evitados quanto chocolate. E osso tem prazo de validade. Se você é carnívoro, que tal deixar carne fora da geladeira por alguns dias? Pois bem, é a mesma coisa que largar um osso ao relento; restos de carne ou gordura são ótimos para atrair moscas e micróbios em geral que podem causar doenças até fatais para o canino. É bom trocar o osso após no máximo 24 horas.
Enfim, dar ossos ao cão é bom – mas não qualquer osso, e não ossos somente. E vamos terminar com a frase com que iniciamos, “você é o que você come”. A frase virou também música do grupo de rock progressivo Genesis, e, bem a propósito, eles complementam: “Você é o que você come... coma bem!”
Fonte: Vidadecão
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