quinta-feira, 12 de abril de 2012

Gato preto não dá azar


Caroline Ropero
Do Diário do Grande ABC




"Espírito, entra em casa." Assustou? Calma. A frase é dita com frequência por Ana Gabriella Papst, 9 anos, de Santo André, para chamar o gatinho da tia. Em geral, a vizinhança se espanta ao ouvir o nome do felino e arregala mais os olhos ao ver que tem pelagem negra.
Não é de hoje que os gatos pretos são vistos com desconfiança. Ainda há quem acredite que dão azar. Ana Gabriella discorda completamente: "O Espírito é carinhoso e sempre deu sorte para minha tia". Na opinião da menina, bichos dessa cor são os mais bonitos.
Mas por que são sinônimos de má sorte? Tudo começou na Idade Média (entre os séculos 5 e 15). Naquela época, as cidades eram cheias de ratos; comida era o que não faltava aos felinos. Então, a quantidade deles aumentou demais. Por terem hábitos noturnos e olhos que brilham no escuro, a população começou a inventar histórias e compará-los a seres do mal, principalmente os de pelos escuros.
Acreditava-se que eram bruxas em forma de animal (como os animagos de Harry Potter). Por isso, eram maltratados e, em alguns casos, queimados vivos junto a pessoas acusadas de bruxaria. No século 15, o papa Inocêncio VIII autorizou a perseguição aos bichanos. A violência começou a diminuir apenas a partir de 1630, quando o rei da França Luís XIII a proibiu.
Parece coisa do passado, mas o homem ainda maltrata o animal. Aliás, gatos pretos são frequentemente mortos em datas comemorativas como Semana Santa, Halloween e Sexta-feira 13. Desse modo, quem tem bichinho desta cor deve ficar atento e não deixá-lo andar sozinho por aí nesta semana (a próxima sexta é dia 13).
Para protegê-los, o Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo proibiu, em 2009, a adoção nesses dias. Agora, a iniciativa é tomada todos os anos por ONGs (Organizações Não Governamentais) e associações de proteção animal. Até em dias comuns, os protetores tomam cuidado ao doá-los. Em geral, fazem acompanhamento para ter certeza de que o felino está sendo bem cuidado.
Por causa da superstição, também são os menos adotados. Entretanto, há famílias, como a de Ana Gabriella, que não se importam com a cor dos pelos do bichano. Como sabem que as histórias não são verdadeiras, querem ajudar a acabar com o preconceito. Agora, o próximo plano da tia da menina é adotar um felino branco. O nome já foi escolhido: Alma, para combinar com Espírito!

Curiosidades
- Gatos pretos fazem sucesso na telinha. Um dos mais conhecidos é o Gato Félix. O personagem animado, de pelos negros e risada diferente, sempre se mete em confusões. Para solucionar problemas, usa o próprio rabo como ferramenta. Há também os bichanos falantes de filmes, como Salém, de Sabrina: Aprendiz de Feiticeira, e Binx, de Abracadabra.
- Os gatos da raça bombay têm pelos pretos, tamanho médio e olhos cor de cobre ou dourados. A raça foi criada pela norte-americana Nikki Horne, em 1965.
- Outra superstição diz que o gato - de qualquer cor - prevê o tempo. Quando arranha tapetes e cortinas significa que vai ventar. Se limpa muito as orelhas ou olha pela janela vai chover. Caso sente de costas para o fogo fará frio. Se dormir com as quatro patas debaixo do corpo é que o mau tempo chegará. Marinheiros até levavam felinos em viagens, pois se miassem alto era sinal de que enfrentariam dificuldades.
- Registros antigos mostram que o medo exagerado de gatos - chamado fobia - existe desde a época em que eram cultuados pelos egípcios. Na Idade Média, quando passaram a ser ligados ao mal, tornou-se mais comum. O pavor de bichanos recebe o nome de ailurofobia ou gatofobia.

Consultoria de Maria Cecília Bentini, diretora geral da ONG Ajudanimal, de Ribeirão Pires.

CQC reforça discriminação e preconceito contra gato preto.

Por Lobo Pasolini

Toda pessoa que trabalha na mídia, seja como jornalista, ator ou comediante, tem a obrigação de respeitar certas regras éticas. Isso não é censura, mas sim uma forma de proteger os vulneráveis. Quem trabalha em indústrias culturais deve ter a imaginação rica o suficiente para criar sem promover violência, humilhar, discriminar e propagar ignorância em uma sociedade que padece gravemente deste mal.

Ontem (12) em sua reestreia o programa CQC fez exatamente isso ao apelar, para fazer graça, para uma mentira antiga sobre gatos pretos – que eles dão azar. Os integrantes do programa receberam uma caixa com um gato preto que supostamente teria sido enviada pela Globo para supostamente agourar. a nova temporada. Para piorar a situação, eles ainda voltaram com três espetos fingindo que tinham feito churrasco do gatinho, o que é crime também.

Curiosamente, para um programa que faz tanta sátira política, repetir a mesma falta de decoro com as leis e com a vida alheia, como fazem os políticos de Brasília, é no mínimo hipócrita, além de ser altamente irresponsável.

Os animais já sofrem com a violência humana. A última coisa que eles precisam é de humor que possa suscitar ainda mais violência contra eles. O CQC deveria se envergonhar por esse lapso de julgamento.


Fonte: Wilson Grassi, veterinário.

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