terça-feira, 3 de abril de 2012



por Robson Fernando de Souza.


O Artigo Morte aos Gatos começa dessa forma:


"Como conceber que, enquanto países como França, EUA, Inglaterra etc., fazem controle da população de animais – sim, o excesso é sacrificado –, nós, em Natal, estamos sofrendo – pela suposta bondade de alguns – com o aumento do número de infectados com a chamada ‘doença do gato’, a toxoplasmose? O que tornou possível a inversão de valores? Em que o paradeiro de um bicho se torna mais importante do que o sofrimento de um ser humano? (continue lendo o artigo clicando aqui)"


Um artigo extremamente preconceituoso e falacioso, publicado no último dia 29 no site Carta Potiguar sob a autoria de Daniel Menezes, exorta que os gatos de rua de Natal/RN sejam exterminados, sob o velho pretexto do controle de zoonoses. Num texto recheado de achismos e discriminação moral contra os animais não humanos, de título claramente apologista da violência contra os animais, acusa os gatos de serem os vetores da toxoplasmose e potenciais causadores de uma epidemia dessa doença.

O texto distorce e discrimina quem defende os animais não humanos, deixando a entender que quem o faz, valoriza mais a vida dos não humanos do que a dos humanos. E põe na mesa a dicotomia “ou eles ou nós”, segundo a qual se estaria valorizando “mais” a vida dos gatos do que os humanos infectados pelo toxoplasma. E ainda incide numa visão rasa dos Direitos Animais, como se sua grande questão fosse não a exploração animal em si, mas a “necessidade” de “só fazer uso dos animais não racionais em condições bem claras e eticamente sustentadas”.

Como todo texto reacionário de quem escreve manifestando indiferença ou aversão aos pacientes morais não humanos, investe-se também em lançar um argumento furado, baseado em falácia “Olha o avião” (fuga do tema), falácia genética e distorção de fato, contra o vegetarianismo – segundo o qual “o homem [sic] dependeu de proteínas e aminoácidos advindos da carne animal para se desenvolver. Se tivéssemos ficado apenas na salada, muito provavelmente eu não estaria escrevendo este texto”.

Ignora o argumentador que esse tal desenvolvimento não foi atrelado à qualidade nutricional da proteína animal, mas sim porque os hominídeos que deram origem ao Homo sapiens sapiens precisavam se alimentar de carne para evitar sucumbir à baixa diversidade de nutrientes vegetais de seu meio ecossistêmico, conforme artigo de Sérgio Greif.

Voltando ao assunto principal, o autor ironiza com a ética animal e sua proposta de igualdade moral entre os animais humanos e os não humanos, atitude típica de quem se recusa a sequer ler sobre o assunto. Mais adiante, ele despeja toda uma série de achismos preconceituosos sobre a transmissão da toxoplasmose pelos gatos, não fundamentados em qualquer dado científico. Alterna tal visão de mundo com uma interpretação desrespeitosa e reducionista da convicção ética de quem defende os animais não humanos, acusando indiretamente os defensores de emotividade.

No último parágrafo, ele é incisivo: quer que exterminem o “excesso” de gatos que vivem na cidade de Natal e criminalizem a tutela comunitária de animais, e defende que os animais não humanos são de fato seres inferiores assim como nos “países desenvolvidos” – perguntando no final “por que não pode ser dessa maneira aqui também”.

Parece o autor ser incapaz de uma pesquisa mesmo rápida, para que se omitisse uma opinião mais séria e menos enviesada por preconceitos pessoais, sobre as soluções para as zoonoses. Se ele tivesse pesquisado, teria tomado ciência de que o extermínio de animais de rua é, além de profundamente imoral e antiético mesmo para uma maioria ainda especista da sociedade, algo ineficaz no controle populacional e na detenção das doenças transmitidas por esses seres – o Projeto de Lei nº 04/2005 está aí para mostrar isso. Para que incitar uma “Solução Final” de assassinato em massa se há métodos muito mais éticos, eficientes e que não demandam tal sacrifício para se combater a toxoplasmose?

E também desconhece ele que a toxoplasmose não é transmitida por contato direto com gatos, mas sim pela ingestão de alimentos contaminados com fezes de gato ou pela ingestão direta de traços das próprias fezes do animal infectado, conforme mostra o Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de São Paulo capital.

É de se perguntar por que algumas pessoas, usando de falácias e preconceitos para emitirem uma opinião que deixaria o alto escalão de regimes totalitários genocidas com inveja, preferem ser “politicamente incorretas” a ser respeitosas, empáticas e intelectualmente honestas.

Protestos podem ser enviados ao Twitter do autor e aos comentários do artigo no site Carta Potiguar. Recomendo que não dirijam comentários atentatórios à honra (ofensas, ameaças e outras reações irracionais).

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